Por Daiana Brocardo
Movimento Divas do Comex já conectou mais de mil mulheres de todo o Brasil, atuantes no setor.
A presença feminina no comércio exterior brasileiro mostra avanços, mas também expõe desafios. Em um cenário onde as mulheres representam 58% dos profissionais atuantes no setor, dados do Hub Mulheres do Comex revelam que apenas 13% dessas profissionais são proprietárias de seus negócios, destacando a desigualdade estrutural na ocupação de posições de liderança.
Estudos apontam que a qualificação influencia diretamente na participação feminina. No setor de exportações, as mulheres ocupam 54% das funções de alta qualificação, contra 34% em funções de menor exigência técnica. Já na área de importações, os números caem para 32,4% nos cargos mais especializados e 28,9% nas funções menos qualificadas. (Fonte: External Trade Effects on Woman Employment: the Case of Brazil, de autoria de Marta Reis Castilho)
Esse cenário reflete o potencial das mulheres em áreas como logística, legislação aduaneira e negociação, mas também demonstra a necessidade de políticas que ampliem as oportunidades de ascensão. Uma análise mais ampla confirma esse desafio: apenas 20% das empresas exportadoras no Brasil são lideradas por mulheres, conforme levantamento do Banco Mundial.
Mas essas estatísticas não param por aí:
Um estudo inédito divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços em 2023 revelou que empresas do comércio internacional remuneram melhor, mas a disparidade salarial entre homens e mulheres ainda persiste, chegando a 28,4% na indústria de transformação que importa ou exporta.
Iniciativas globais
A discussão sobre a inclusão feminina no comércio internacional ganhou fôlego no ano passado com o workshop Mulheres no Comércio Internacional, realizado em Brasília, com a presença de lideranças como Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O evento, vinculado ao G20, destacou a importância de políticas que garantam igualdade de oportunidades, promovendo um comércio mais inclusivo e equitativo.
“É inédito que o Grupo de Trabalho de Comércio e Investimento do G20 dê prioridade às questões das mulheres no comércio. O comércio e gênero estão no centro de uma agenda para tornar o comércio mais inclusivo. E se quisermos apoio para a agenda comercial, precisamos tornar o comércio mais inclusivo,” destacou Tatiana em reportagem publicada no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Em outubro do ano passado os ministros de Comércio do G20, sob a presidência brasileira, destacaram pela primeira vez a promoção da participação feminina no comércio internacional como prioridade na agenda de comércio e investimentos. Na reunião em Brasília, liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, foi endossado um compêndio de boas práticas para superar barreiras enfrentadas por mulheres no comércio global.
O documento, elaborado com contribuições dos países do G20 e de nações convidadas, identifica desafios como dificuldades de financiamento, procedimentos aduaneiros e responsabilidades familiares, evidenciados por uma pesquisa internacional do B20 com mais de 1.900 participantes. As mulheres relataram enfrentar mais obstáculos que os homens, reforçando a necessidade de ações direcionadas para igualdade no setor.
Oportunidades para o Futuro
A igualdade de gênero no comércio exterior vai além de questões econômicas; trata-se de justiça social e aproveitamento do potencial humano, tanto que várias iniciativas já estão em prática em todos o mundo. No Brasil, diversas iniciativas têm sido implementadas para promover a participação feminina no comércio internacional. O programa Elas Exportam, coordenado pelo MDIC e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), lançado em 2023, oferece treinamentos técnicos e socioemocionais, além de mentorias personalizadas para empresárias, com o objetivo de apoiar ao menos 100 mulheres por ano e facilitar sua participação em missões comerciais internacionais. Outra iniciativa relevante é o Mulheres e Negócios Internacionais (MNI) da ApexBrasil, que busca aumentar a presença de empresas lideradas por mulheres nas cadeias globais de valor. Em 2023, o programa realizou 33 ações, resultando em um aumento de 33,4% no número de empresas femininas apoiadas em comparação ao ano anterior.
Com maior representatividade e políticas de apoio, o setor se torna um terreno fértil para a liderança feminina. O fortalecimento da presença das mulheres no comércio exterior é, sem dúvida, um passo essencial para a construção de uma economia global mais justa e próspera.
Iniciativas locais
Para reforçar a importância do protagonismo feminino no comércio exterior, o movimento DIVAS DO COMEX, idealizado por Renata Palmeira, CEO do site RêConectaNews, promove encontros que unem mulheres em momentos de descontração, motivação, profissionalização e aperfeiçoamento. Sós nos últimos dois anos, foram mais de mil mulheres conectadas durante os encontros e grupos de networking.
O próximo evento DIVAS DO COMEX está marcado para o dia 18 de janeiro de 2025, das 9h30 às 12h30, na Advanced Corretora Câmbio, localizada na Avenida Paulista, 500, Sala de Eventos, São Paulo – SP.
“É um momento se atualizar sobre o Poder do Networking na área de Logística e Comércio Exterior e trocar experiências. Essa iniciativa fortalece a rede de mulheres no setor, promovendo conexões estratégicas e inspiração para um crescimento conjunto”, finaliza Renata.
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