Apesar da polêmica e das disputas envolvendo o STS10, área que será destinada para contêineres e que originalmente fica no cais do Saboó, no Porto de Santos, entidades do setor consultadas por A Tribuna compreenderam a ideia do presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), Anderson Pomini, sobre o caso. No último dia 1º de agosto, em entrevista coletiva, ele disse que o STS10 não será viabilizado antes da construção de dois viadutos na Alemoa, previstos para 2028.

Presidente da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), Murillo Barbosa avalia que se trata de uma decisão acertada e bastante coerente da APS. “Realmente o acesso rodoviário é um dos grandes gargalos que existem para o Porto de Santos. E um terminal de contêineres só vai aumentar essa demanda de caminhões para o Porto. Vale ressaltar outra obra de infraestrutura de suma importância, que é o aprofundamento do canal para 16 metros, para que esse novo terminal possa operar recebendo os maiores navios porta contêineres existentes hoje”, argumenta.

O próprio Pomini lembrou na mesma ocasião que, caso o STS10 estivesse funcionando atualmente, conforme foi projetado, a Cidade estaria totalmente parada na região da Alemoa.

“Antes de expandirmos e pensarmos em novos terminais, é preciso que tenhamos vias de acesso adequadas”, ressaltou na entrevista.

Diretor-presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Jesualdo Silva também considera “adequada” a posição da APS. “Entendemos que o Porto precisa crescer em sintonia com os modais que serão utilizados para o escoamento dos produtos para evitar gargalos e conflitos na relação porto-cidade”.

O gráfico abaixo usa dados do DataLiner para comparar importações e exportações de contêineres de longo curso no Porto de Santos entre janeiro de 2021 e junho de 2024.


Outros argumentos

O presidente da Associação das Empresas do Distrito Industrial e Portuário da Alemoa (AMA), João Maria Menano, entende que a APS tem razão no pensamento logístico e técnico da questão, mas ressalta que gestões municipais, estaduais e da própria Autoridade Portuária anteriores foram avisados a respeito.

“Também causa indignação que estejam sendo realizadas, neste momento, duas passarelas entre as marginais da Anchieta, entre o viaduto da Alemoa e o Rio Casqueiro, sem que dois braços de pouco mais de 20 metros não interliguem os funcionários do bairro industrial da Alemoa. Mesmo como rota de fuga de ciclistas e de prestadores de serviço que, diariamente, atravessam a linha férrea – graças a Deus cada vez mais operante – por cima dos trilhos”, argumenta.

Menano também observa a respeito das divergências a respeito das competências das obras, que acabam atrapalhando. “Sendo agora a Ecovias a fazer o viaduto do Saboó à Anchieta, cai por terra aquele discurso ineficiente dos entes políticos de que isto é obrigação da União, aquilo do Estado e aquele outro do Município. Isso não convence e, depois, não se mostra real na prática. Pode uma divergência entre entes políticos criar gargalos no Porto de Santos e ninguém ser responsabilizado pela prioridade na opção do local errado dos dois viadutos da Zona Noroeste?”, emenda.

O presidente da AMA também ressaltou para que sejam dadas as ampliações aos terminais de contêineres que eles pedem e necessitam, “mas que se licite o Saboó para não perdermos cargas para outros portos e as pessoas possam trabalhar nos diferentes tipos de cargas”.

Em breve, diz ele, haverá incapacidade também na carga de projetos e nos veículos de importação e exportação, com dificuldades ainda maiores do que hoje em berços de fertilizantes, granéis sólidos e granéis líquidos. “O Saboó, caso licitado para cargas e contêineres, precisa de dois ou três anos de obras para reforço de cais”, acredita Menano.

Apesar de apoiar com veemência a transferência do terminal de passageiros para o Centro de Santos, o empresário acha que não é admissível que se percam metros quadrados importantes para a logística de cargas. “O terminal de passageiros tem de ficar no Centro, porém mais perto dos armazéns 1, 2 e 3 e não tirando área já ocupada por cargas no Saboó”, acrescenta.

O Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), que representa os armadores, preferiu não se pronunciar no momento sobre o assunto.

Principais terminais de contêineres do Porto se posicionam

A Tribuna procurou os dois principais terminais de contêineres do Porto. Pela Santos Brasil, o diretor-presidente, Antônio Carlos Sepúlveda, afirma que novos projetos devem ser desenvolvidos sem interferir negativamente com a eficiência do Porto e o bom funcionamento dos municípios portuários.

“As autoridades portuárias devem zelar pela equalização da capacidade dos acessos marítimo, rodoviário e ferroviário com a capacidade dos terminais. A boa gestão dessas capacidades aumenta a competitividade do Porto e reduz o impacto da operação portuária no meio ambiente, principalmente emissão de gases efeito estufa”, comenta.

Já a Brasil Terminal Portuário (BTP), em nota, acredita que a modernização da infraestrutura portuária deve ocorrer simultaneamente à expansão da capacidade em novas áreas, não apenas com obras civis para a entrega de mais viadutos na Alemoa, mas também com novas rodovias de acesso, dragagem no canal de navegação e aumento do transporte ferroviário e de cabotagem.

“É urgente e imperativa a ação para aumentar a capacidade de operação de contêineres no Porto de Santos. De fato, todos esses investimentos devem estar em sinergia e serem realizados simultaneamente, pois somente sendo tratados de forma concomitante, podem contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura e para a representatividade do País no comércio exterior”, afirma.

Apesar de a APS negar esgotamento para a movimentação de cargas no Porto de Santos, a BTP afirma que o complexo portuário santista entrará em colapso até 2026 se nada for definido e começar a ser feito agora, ressaltando que a afirmação já considera as expansões contratadas dos terminais do complexo santista.

“Um novo terminal, como o STS10, levará ao menos quatro anos para estar 100% operacional. Por essa razão, as obras civis para expandir a rede rodoviária podem ocorrer simultaneamente – elas não têm impacto sobre a execução do plano em termos de aumento da capacidade de movimentação de contêineres em Santos. Adicionalmente, mesmo com o STS10 elevando a capacidade de movimentação de contêineres, ele movimentaria volumes significativos de cargas de transbordo, o que não causaria impacto na infraestrutura viária”, argumenta.

Fonte: A Tribuna
Entidades apoiam Autoridade Portuária sobre esperar para ativar o terminal STS10 no Porto de Santos (atribuna.com.br)