Reflexo da economia aquecida, as importações cresceram acima do esperado no início do último trimestre do ano.

A alta das importações em outubro não é isolada e segue tendência que ficou mais clara desde junho, a despeito da maior depreciação do real frente ao dólar no decorrer do segundo semestre na comparação com a primeira metade do ano, segundo especialistas. O dinamismo leva a estimativas de superávit comercial entre US$ 70 bilhões e US$ 74,6 bilhões para 2024, bem aquém dos US$ 99 bilhões em 2023.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), a balança comercial brasileira fechou outubro com superávit de US$ 4,3 bilhões, bem abaixo dos US$ 9,2 bilhões em igual mês do ano passado. O saldo resultou de US$ 29,5 bilhões em exportação e US$ 25,1 bilhões em importação. A redução do superávit se deveu principalmente ao avanço dos desembarques, que subiram 22,5% em valor. A exportação caiu 0,7%, sempre em relação a outubro de 2023. No acumulado até outubro o superávit foi de US$ 63 bilhões, com exportações de US$ 284,5 bilhões e importações de US$ 221,4 bilhões.

O gráfico a seguir utiliza dados extraídos do DataLiner, produto mestre da Datamar, para comparar as importações de contêineres registradas nos portos brasileiros de janeiro a setembro, desde 2021.


Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

O diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do Mdic, Herlon Brandão, afirmou que as importações e a corrente de comércio – soma da importação e da exportação — registradas em outubro de 2024 foram recordes para o mês. Segundo ele, a alta das importações vem do aumento do volume desembarcado, já que os preços desses bens estão em queda.

A importação de bens de capital em outubro e no acumulado do ano, são os “grandes destaques” para o período, apontou Brandão. Em outubro, o volume de compras externas de bens de capital cresceu 55,6% contra igual mês de 2023.

“A importação de bens de capital é uma boa notícia, mas é preciso lembrar que a base de comparação é baixa”, diz Welber Barral, sócio da BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior. Ele destaca que em outubro a quantidade importada de bens intermediários também cresceu bastante, com alta de 37%. A categoria representa 61,6% da importação total brasileira.

Com exceção de julho, o valor da importação total vem crescendo mensalmente a dois dígitos desde junho, mesmo com o real mais depreciado frente ao dólar nos últimos meses, aponta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Em junho, diz, a alta no valor importado foi de 20,1%. Em julho houve desaceleração para alta de 5,6%, mas em agosto o ritmo maior voltou, com aumento de 18,1%. Em setembro e outubro o crescimento foi de14,2% e de 17%, nessa ordem. As variações são por média por dia útil. “A evolução mostra que a alta em outubro não é pontual, mas vem de tendência consistente nos últimos meses.”

A aceleração das importações acima do esperado vem achatando os superávits comerciais mensais e as projeções de saldo para o ano. A AEB, que no início do ano esperava saldo de US$ 92 bilhões em 2024, agora estima superávit de US$ 71 bilhões. Barral estima saldo de US$ 70 bilhões. Gabriela Faria, economista da Tendências Consultoria, projeta US$ 74,6 bilhões.

Mesmo assim, destaca Barral, o saldo trará “excelente” contribuição ao setor externo. “Saldos acima de US$ 50 bilhões têm impacto positivo no balanço de pagamentos”,  diz. Ele lembra que em 2023, o superávit de US$ 99 bilhões foi recorde e “extraordinário”.

Castro destaca que o aumento do valor importado vem puxado principalmente pelo fator volume e acompanhado de queda de preços. Segundo dados da Secex, no acumulado do ano contra iguais meses de 2023, o volume total importado aumentou 18% enquanto os preços médios caíram 7,5%. A quantidade importada, aponta, se acelera independentemente da depreciação do real frente ao dólar. Os dados, diz Castro, indicam que parte desse custo foi amenizada via queda de preços em dólar, resultado de provável negociação entre importador e fornecedor.

Sob influência do desempenho de petróleo, minério de ferro e soja, a receita de exportação brasileira caiu 0,7% em outubro na comparação com igual mês de 2023.Os embarques de petróleo, soja e minério de ferro caíram em outubro sob influênciada queda de preços nas três commodities que, juntas, representaram 27,2% do total embarcado no mês. Os preços médios das commodities caíram, respectivamente, 24,3%, 18,3% e 22,6%. O comportamento contribuiu para uma queda de receita de exportação em outubro de 10,8%, 31,3% e 18,7%, nessa ordem.

Para Faria a queda de preços deve continuar afetando as exportações em 2025. A projeção da Tendências para o saldo comercial em 2024 é de US$ 74,6 bilhões, com estimativa de US$ 337,6 bilhões para as exportações e de US$ 263,0 bilhões para as importações. Para 2025, a projeção é de superávit de US$ 71 bilhões, resultado de US$ 326,8 bilhões em exportações e de US$ 255,8 bilhões em importações. A ligeira queda de 3,2% esperada para as exportações em 2025, diz Faria, reflete o fator preço, sendo que para as quantidades ainda é esperado aumento da produção de minerais e de petróleo, além da recuperação da produção de grãos.

FONTE: Valor Econômico
Economia aquecida puxa importações e reduz saldo comercial | Brasil | Valor Econômico