Antecipação do GRI e desvio de navios elevam custos logísticos
Os fretes marítimos no Brasil registraram uma disparada nas últimas semanas, em meio à crescente escassez de navios e contêineres disponíveis para o país. O motivo é o redirecionamento de embarcações para a rota entre China e Estados Unidos, impulsionado por uma trégua tarifária de 90 dias entre as duas potências, segundo avaliação de Andrew Lorimer, diretor-executivo da Datamar.
“Estamos observando aumentos de mais de 100% no frete entre Ásia e Brasil em apenas uma semana, com valores já em torno de US$ 3.300 por contêiner. E a tendência é de novas altas”, afirma Lorimer. Ele explica que as companhias anteciparam a aplicação do GRI (General Rate Increase), geralmente esperado entre julho e setembro, período em que o varejo brasileiro costuma reforçar seus estoques para o Natal. “Desta vez, o ajuste veio antes, puxado pela pressão global por capacidade logística.”
Com o comércio norte-americano se preparando para a Black Friday e o Natal, embarcadores nos EUA têm puxado a realocação de navios que atuavam em outras rotas — incluindo América do Sul — para o corredor Ásia-EUA. Esse deslocamento tem reduzido a oferta de espaço para cargas com destino ou origem no Brasil.
Lorimer também chama atenção para a crescente dificuldade de acesso a contêineres no país, o que pode impactar negativamente não apenas as importações, mas também as exportações. “A falta de equipamentos logísticos poderá provocar gargalos, especialmente no caso de produtos que dependem do transporte refrigerado”, alerta.
De acordo com dados da Datamar, entre janeiro e abril de 2025, as importações brasileiras em contêineres somaram 1,136 milhão de TEUs, alta de 10,7% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar do crescimento, o executivo observa que ainda não é possível atribuí-lo exclusivamente ao cenário tarifário, embora os efeitos do realinhamento global já comecem a aparecer.
Outro fator que contribui para o desequilíbrio logístico, segundo Lorimer, é a ausência de um acordo tarifário entre Estados Unidos e União Europeia. Isso tem provocado congestionamentos nos portos europeus, agravados por questões como o baixo nível dos rios, falta de mão de obra e sobrecarga nos terminais. “Tudo isso adiciona incerteza ao mercado e pressiona ainda mais o custo do frete global”, afirma.
Embora a trégua tarifária tenha aberto uma janela para reorganização das rotas, o cenário permanece imprevisível. “É possível que novos acordos comerciais tragam estabilidade, mas também existe o risco de novas turbulências”, conclui Lorimer.
Fonte: Datamar News