A promessa é de aumento das exportações para a China, mas o problema se encontra em um ponto-chave: a ênfase nas rodovias
Quando governou o estado de São Paulo, de 1920 a 1924, Washington Luís transformou a construção de rodovias na grande marca de sua gestão, a ponto de cunhar a frase com que seria lembrado: “Governar é construir estradas”. Seus desafetos não perderam a chance de apelidá-lo de “Dr. Estradas de Bobagem”, um trocadilho jocoso com as estradas de rodagem que tanto prezava. Desde então, o Brasil percorreu um longo caminho de asfalto que o afastou cada vez mais dos meios de transporte mais eficientes para a economia, como as ferrovias e as hidrovias.
Cem anos depois, o encontro ocorrido há poucos dias entre os presidentes Lula, do Brasil, e Gabriel Boric, do Chile, mostra que o país insiste nessa trilha. O centro das atenções foi o anúncio dos detalhes da rota rodoviária que ligará os portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), São Francisco do Sul e Itajaí (ambos em SC) aos portos chilenos de Iquique, Mejillones e Antofagasta. Promovido por Lula como a solução para aumentar as exportações para a China e os países vizinhos, o projeto é o mais recente exemplo de desperdício de recursos provocados pela opção por um caminho equivocado. “Ninguém garante que trará ganhos aos exportadores”, diz Olivier Girard, presidente da consultoria Macroinfra.

A rota terrestre para o Chile é estudada há décadas e agora vai mesmo sair do papel. Com 3 320 quilômetros de extensão entre os oceanos Atlântico e Pacífico, e cruzando a Argentina e o Paraguai, ela deve ser concluída no primeiro semestre de 2026. O trecho brasileiro, com cerca de 1 500 quilômetros, custará 19 bilhões de reais, providos pelo Orçamento federal e pelo BNDES. Em tempos de déficit fiscal e aumento da dívida pública, o governo argumenta que o projeto reduzirá a distância, o tempo e os custos para alcançar a China, nossa maior cliente. Hoje, um navio que parte de Santos e cruza o Canal do Panamá demora 54 dias até Xangai. Se partisse do Chile, economizaria doze dias. Para a ministra do Planejamento, Simone Tebet, uma das mais entusiasmadas com o projeto, os custos de exportação para a Ásia serão até 90% menores.
Esse otimismo não encontra amparo nas contas dos especialistas. É verdade que o frete marítimo cairá, mas o problema é levar a carga até o Chile a preços competitivos — e a opção por rodovias é a pior possível. “Não faz sentido utilizar estradas para transporte de longa distância”, afirma Roberto Guimarães, diretor da Abdib, que representa as empresas de infraestrutura. “O melhor seriam as ferrovias.” Um estudo feito no ano passado pela Anec, que reúne os exportadores de soja, mostra que o transporte rodoviário para os portos representa até 75% do frete total para chegar à China. Segundo a entidade, os produtores de Sorriso, em Mato Grosso, gastavam 138 dólares para carregar 1 tonelada de grãos até o país asiático. O transporte rodoviário para o Porto de Santos consumia 103 dólares. Apenas 35 dólares eram gastos com o navio.
Nesse sentido, aumentar a utilização das estradas para escoar a exportação não convence os entendidos. “Caminhões são adequados para distâncias de até 500 quilômetros”, diz Maria Fernanda Hijjar, sócia da consultoria Ilos. Outros fatores podem onerar ainda mais a conta. A nova rota cruzará a Argentina, o Paraguai e o Chile. Em cada fronteira, há o risco de os caminhoneiros esperarem dias até que a carga seja liberada pela alfândega para seguir viagem. Além disso, o corredor logístico cruzará a Cordilheira dos Andes em um trecho elevado, onde o trânsito de veículos pesados é restrito — não é possível, por exemplo, fazer o trajeto com os caminhões biarticulados comuns por aqui.
Apesar desses entraves, o governo federal acredita que a nova rota ajudará a elevar o intercâmbio com os nossos vizinhos. No ano passado, a América do Sul contribuiu com 6,3 bilhões dos 75 bilhões de dólares de superávit que o Brasil obteve transacionando com o mundo. Os automóveis e as autopeças responderam por 25% dos 37 bilhões de dólares que vendemos na região. “Negociar com os vizinhos faz sentido no mundo todo”, diz João Villaverde, secretário de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento. Faz sentido, mas ocorre que há caminhos mais eficientes e econômicos para atingir esse objetivo, conforme apontam especialistas e empresários que exportam seus produtos. Em um país como o Brasil, tão atrasado em investimentos em infraestrutura, é bastante questionável gastar bilhões de reais em um projeto que investe em uma trilha antiga. A rota terrestre para o Pacífico festejada por Lula representa um novo capítulo de uma série de projetos que privilegiam um caminho equivocado.
Fonte: Veja Negócios
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