“Ninguém entende melhor as dores de uma empreendedora do que outra “, avalia Cintia Almeida, fundadora da Somos, maior rede de empreendedoras qualificadas do país

Desde 1688, quando capitães de navios se reuniam na taberna de Edward Lloyd, em Londres, para contratar seguros marítimos, negócios e relacionamentos andam de mãos dadas. As reuniões no estabelecimento de Lloyd deram origem ao Lloyd’s de Londres, embrião do mercado segurador moderno. E o conceito de fazer negócios com quem você conhece só prosperou desde então, agora com o nome técnico de networking.

Para além dos encontros entre executivos de empresas diferentes, essas redes de relacionamento envolvem cada vez mais empresários e empreendedores. No entanto, ainda é um universo predominantemente masculino.

Segundo um levantamento do LinkedIn realizado em diversos países, a probabilidade de uma mulher construir um network poderoso por meio da rede social é menor que a de um homem. A diferença oscila dos 14% entre as indianas até os 38% entre as mulheres de Singapura. No Brasil, a probabilidade contra as mulheres é de 27%, mais ou menos na média.

A comparação é precisa, pois todos os usuários e usuárias do LinkedIn têm pelo menos alguns pontos em comum. Usam a rede social com intenções profissionais ou empresariais, e têm uma afinidade mínima com a tecnologia. Apesar disso, a diferença é grande mesmo no caso menos pior, o da Índia.

Teto de vidro

Há boas razões para isso. A dinâmica de um executivo ou empreendedor é semelhante à de uma executiva ou empreendedora. Semelhante, mas não igual. Para além do teto de vidro – um limite que as mulheres atingem quando chegam a um determinado nível da carreira, sem a possibilidade de avançar –, a mulher empreendedora tem de enfrentar a tristemente famosa dupla ou tripla jornada, o que não facilita as possibilidades de networking.

Há comprovação acadêmica disso. Uma pesquisa do professor americano Brian Uzzi, da universidade americana Kellogg, publicada em 2019 na Harvard Business Review, comprova que as necessidades de networking das mulheres são diferentes dos requisitos masculinos. “As mulheres em busca de oportunidades frequentemente enfrentam obstáculos que os homens não enfrentam”, escreveu ele. “Assim, elas se beneficiam proporcionalmente mais de um círculo próximo de contatos femininos que podem compartilhar informações.”

O trabalho de Uzzi analisou a busca por posições executivas entre estudantes de MBA americanas no fim da década passada. No entanto, os princípios também valem para as donas dos próprios negócios. Daí a importância do networking para as empreendedoras.

Donas do próprio negócio
O empreendedorismo feminino no Brasil é tão relevante quanto a participação das brasileiras na população. Segundo dados do Sebrae, o número de empreendedoras é semelhante ao de empreendedores homens, mas o caminho delas é mais tortuoso. Um estudo do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) do fim de 2023 inferiu que as empresárias brasileiras faturam pouco.

Elas pagam juros mais elevados (mesmo sendo menos inadimplentes) e suas empresas têm menos probabilidade estatística de crescimento. Cerca de 82% são afrobrasileiras, 98% pertencem às classes de renda mais baixa e 83% empreendem por necessidade. “Daí a dificuldade de montar um network eficaz”, diz a publicitária Cíntia Almeida, fundadora da confraria Somos. “Não adianta colocar a empreendedora por necessidade ao lado da empreendedora que possui um negócio estruturado e pensa na expansão e até na internacionalização.”

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https://forbes.com.br/forbes-mulher/2024/05/empreendedorismo-feminino-os-obstaculos-e-as-vantagens-do-networking/