Especialistas: Ventos contrários na economia, como tarifas dos EUA, impulsionarão parcerias mais fortes.
Inflação em alta e tarifas dos EUA estão forçando o Brasil a renovar o foco no fortalecimento das relações comerciais com a China como um catalisador para a recuperação econômica.
A inflação no Brasil atingiu 5,48% em março, o maior nível em dois anos e bem acima do teto da meta do Banco Central, que é de 3%, segundo autoridades.
As tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçam prejudicar o setor de exportações agrícolas — um dos pilares da economia brasileira — agravando ainda mais os problemas econômicos do país e afetando negativamente a aprovação do governo.
Diante desses desafios, o Brasil intensificou os esforços para fortalecer os laços com a China.
“A escala da atividade comercial entre essas duas economias em crescimento pode impactar fortemente a trajetória de crescimento do Brasil”, afirmou Ricardo Teixeira, coordenador do programa de Mestrado em Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas, um centro de estudos no Rio de Janeiro.
Atualmente, o Brasil atrai 4,8% dos investimentos externos da China, tornando-se o quarto maior destino do capital chinês.
De acordo com Teixeira, muitos setores estão prontos para uma colaboração ampliada entre os dois países, incluindo agricultura, energia, mineração, farmacêutica e tecnologia.
“Brasil e China possuem economias diversificadas, que vão desde a produção agrícola e pecuária até tecnologias de ponta.”
Robson Cardoch Valdez, professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), em Brasília, afirmou que as exportações brasileiras continuam fortemente concentradas em commodities como soja e minerais.
O valor das exportações de soja do Brasil para a China quase dobrou entre 2019 e 2023, chegando a US$ 39,8 bilhões. Em 2023, o país exportou 1,3 milhão de toneladas de carne bovina para o mercado chinês.
Entre 2007 e 2023, os investimentos chineses no Brasil somaram US$ 73,3 bilhões em 264 projetos, com foco nos setores de energia, agricultura e automotivo.
Empresas brasileiras de tecnologia estão buscando parcerias com companhias chinesas nas áreas de inteligência artificial, biotecnologia e fintechs, segundo Teixeira. Ele acrescenta que os investimentos chineses em energia renovável no Brasil também estão criando novas oportunidades de colaboração.
“A relação comercial Brasil-China tende a se fortalecer, especialmente com a abertura de novas oportunidades em áreas emergentes como energia limpa e saúde.”
Investidor de destaque
A China se tornou um dos principais investidores em projetos de sustentabilidade na América Latina — uma prioridade que está alinhada às ambições do Brasil de reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa em 67% até 2035.
“Ambos os países estão dando prioridade crescente à sustentabilidade em sua relação comercial”, disse Teixeira.
Outro fator que impulsiona o Brasil em direção à China é o recente surto de protecionismo dos EUA, incluindo tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio, além de uma tarifa-base de 10% sobre todos os produtos. Embora algumas dessas tarifas tenham sido suspensas por três meses, os impactos podem ser significativos.
“O protecionismo crescente dos EUA está desorganizando os padrões globais de comércio, o que pode aproximar ainda mais o Brasil da China, que é vista como uma parceira comercial mais estável”, afirmou Teixeira. “A relação comercial entre Brasil e China vai além das commodities e avança para setores de tecnologia avançada.”
O PIB real do Brasil cresceu 3,4% no ano passado, impulsionado pelo consumo sólido, apoiado por um mercado de trabalho aquecido, transferências fiscais e recuperação dos investimentos. No entanto, um relatório do Banco Mundial, publicado em 30 de abril, projeta um crescimento do PIB real brasileiro de apenas 2,2% em 2024, devido a juros mais altos, um ambiente externo adverso, queda no consumo das famílias e aumento do endividamento, além da redução nas transferências e no dinamismo do mercado de trabalho.
Além disso, Brasil e China estão aprofundando sua colaboração política e tecnológica por meio de plataformas multilaterais como o BRICS e o G20, segundo Valdez, do IDP.
“Iniciativas conjuntas como o programa espacial CBERS demonstram nossa crescente colaboração científica”, afirmou, referindo-se ao programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, uma parceria de longa data entre os dois países no campo da tecnologia espacial.
Fonte: China Daily